REFORMADOS E A EFICÁCIA BATISMAL

Derek Kempa
6 min read4 days ago

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O propósito do texto abaixo é trazer algumas citações de antigos autores reformados com o objetivo de mostrar que a crença na eficácia batismal não é distante da teologia reformada; muito pelo contrário, faz parte da doutrina reformada. As citações vão ser cada vez mais ampliadas ao longo do tempo. Vamos às citações!

JOÃO CALVINO (1509–1564) — PAI DA TEOLOGIA REFORMADA

Institutas da religião Cristã:

Tampouco devemos pensar que o batismo é conferido somente para o tempo passado, de modo que, para as novas faltas em que recairmos depois do batismo, devam ser procurados em não sei que outros sacramentos novos remédios de expiação, como se a força do batismo estivesse já obsoleta. De fato, por causa deste erro, acontecia antigamente que alguns não queriam ser iniciados pelo batismo até o último momento de vida e até mesmo entre os últimos suspiros, para que deste modo obtivessem o perdão pelos pecados da vida toda. Os bispos antigos invectivam muitas vezes em seus escritos contra essa precaução fora de propósito.

Mas, qualquer que seja o tempo em formos batizados, nem por isso devemos pensar que estamos lavados e purificados de uma vez por todas, para a vida toda. E assim, quantas vezes tivermos caído, a memória do batismo deverá ser repetida, e, com esta, a alma hã de se armar, para que esteja sempre certa e segura da remissão de seus pecados. Pois, ainda que pareça que já passou, por ter sido administrado uma vez, no entanto, não está abolido com respeito aos pecados posteriores. Pois nele a pureza de Cristo nos é oferecida, e ela mantém sempre sua força, e não há máculas que a possam diminuir; mas ela remove e apaga toda nossa sujeira (3.15.3)

Aporta-nos ainda outro fruto, porque nos mostra a mortificação em Cristo e a vida nova nele. Porque (como diz o Apóstolo) “pelo batismo, fomos sepultados com ele em sua morte, para que assim também nós vivamos uma vida nova” (Rm 6, 4). Com estas palavras não só nos exorta a que o imitemos (como se dissesse que pelo batismo somos admoestados a que, a exemplo da morte de Cristo, morramos para nossa concupiscência, e, a exemplo de sua ressurreição, nos levantemos para viver em justiça); mas afirma algo muito mais sublime: a saber, que Cristo nos fez, pelo batismo, partícipes de sua morte, para sermos inseridos nela. E, do mesmo modo como a muda extrai sua substância e alimento da raiz em que estão enxertada, assim também aqueles que aceitam o batismo com a devida fé sentem verdadeiramente a eficácia da morte de Cristo na mortificação de sua carne, e, ao mesmo tempo, a da ressurreição, na vivificação do Espírito.
Daí toma ocasião para esta exortação: que, se somos cristãos, devemos estar mortos para o pecado e viver em justiça. E utiliza o mesmo argumento em outro lugar, ao dizer que nele fomos circuncidados e despojados do homem velho, depois de termos sido sepultados pelo batismo em Cristo (Cl 2, 11–12). E, no mesmo sentido, no lugar que citamos antes, chama-o banho de regeneração e renovação (Tt 3, 5). Assim, primeiro, são-nos prometidos o perdão gratuito dos pecados e a imputação da justiça; e, em seguida, a graça do Espírito Santo, que nos reformará na novidade da vida (3.15.5)

Comentário de Calvino ao livro de Tito:

Não tenho dúvida de que aqui há pelo menos uma alusão ao batismo; e não faço objeção se toda a passagem deve ser explicada em termos de batismo. Não que a salvação seja obtida no símbolo externo da água, mas porque o batismo nos sela a salvação conquistada por Cristo.”

Os apóstolos geralmente baseiam um argumento nos sacramentos quando pretendem provar o que está implícito neles, já que deve ser aceito como princípio estabelecido entre os piedosos que Deus não joga conosco usando figuras destituídas de conteúdo, senão que interiormente efetua, por seu próprio poder, aquilo que ele pretende nos mostrar por meio de um sinal externo. Por isso se expressa adequada e genuinamente que o batismo é a “lavagem da regeneração”. O poder e o uso dos sacramentos são corretamente subentendidos quando conectam os o sinal com a coisa significada, ou aquilo que está implícito nele, de tal forma que o sinal não é algo vazio e ineficaz, e quando, querendo enaltecer o sinal, não despojam os o Espírito Santo do que lhe pertence. Ainda que os incrédulos não sejam lavados nem renovados pelo batismo, este, todavia, retém sua eficácia no que concerne a Deus, pois ainda que rejeitem a graça de Deus, ela ainda lhes é oferecida. Aqui, porém, Paulo está se dirigindo aos crentes, em quem o batismo é sempre eficaz, e que, portanto, está corretamente expresso em conexão com sua eficácia e efeito.

Comentário ao livro de 1 Pedro:

Os fanáticos, tais como os seguidores de [Kaspar] Schwenckfeld, absurdamente pervertem este testemunho quando buscam suprimir dos sacramentos todo seu poder e efeito. Pois aqui Pedro não tem em mente ensinar que a instituição cristã é fútil e ineficaz, mas apenas excluir os hipócritas da esperança da salvação, os quais, o quanto podem, depravam e conspurcam o batismo. Além do mais, quando falamos dos sacramentos, duas coisas devem ser levadas em conta: o sinal e a coisa significada. No batismo, o sinal é a água, mas a coisa é a lavagem da alma pelo sangue de Cristo e a mortificação da carne. A instituição de Cristo inclui estas duas coisas. Ora, o fato de o sinal às vezes parecer ineficaz e infrutífero se dá pelo abuso dos homens que não subtraem a natureza do sacramento. Aprendamos, pois, a não rasgar do sinal a coisa significada. Ao mesmo tempo, devemos nos precaver de outro mal, tal como prevalece entre os papistas; pois como não distinguem como devem entre a coisa e o sinal, se detêm no elemento externo e aí fixam sua esperança de salvação. Portanto, a visão da água afasta seus pensamentos do sangue de Cristo e o poder do Espírito. Não levam em conta Cristo como o único autor de todas as bênçãos que daí nos são oferecidas; transferem a glória de sua morte para a água, anexam o poder secreto do Espírito ao sinal visível. O que, pois, devemos fazer? Não separar o que foi unido pelo Senhor.

Precisamos reconhecer no batismo uma purificação espiritual; devemos abraçar nele o testemunho da remissão do pecado e o penhor de nossa renovação, a fim de deixar a Cristo sua própria honra, bem como ao Espírito Santo; de modo de que nenhuma parte de nossa salvação seja transferida para o sinal. Sem dúvida, quando Pedro, havendo mencionado o batismo, imediatamente fez esta exceção, a saber, não sendo a remoção da imundícia da carne, ele mostra suficientemente que o batismo, para alguns, não passa de ato externo, e que o sinal externo, por si só, de nada vale.

Antídoto ao concílio de Trento:

Cânone 7 sobre o batismo do concílio católico romano de Trento:

V. Todo aquele que disse que o batismo é livre, isto é, não necessário para a salvação, que seja anátema.

Resposta de Calvino ao cânone:

That the unskillful may not be imposed upon, precisamos dizer a eles que há um caminho médio entre ser livre e ser necessário, no sentido em que os romanistas usam o último termo. Nós também reconhecemos ser necessário o uso do batismo que ninguém o omita por negligência ou negação. Dessa forma, não fazemos disso em nenhum sentido livre (opcional). E nós não somente unimos o fiel a observância do batismo, mas também mantemos que esse é o instrumento ordinário de Deus para nos lavar e renovar; brevemente, em nós comunicar a salvação. A única exceção que fazemos é que as mãos de Deus não devem ser presas ao instrumento. Ele pode, por ele mesmo, oferecer a salvação. Pois quando a oportunidade de batismo está faltante, a promessa de Deus é ampla o suficiente. Mas desse assunto já falamos em outra sessão.

PETER MARTYR VERMIGLI (1499–1562) — GRANDE AUTOR REFORMADO

Tratado sobre o sacramento da Eucaristia:

Além disso, vemos que no sacramento do batismo o Espírito Santo e a remissão dos pecados são concedidos, mas não dizemos que eles estão escondidos na água. De fato, revestimo-nos de Cristo, mas ninguém afirma que a água é transubstanciada […] Quanto ao modo, confesso que no batismo Cristo nos é dado como mediador, reconciliador; para falar mais apropriadamente, como regenerador (parágrafo 10)

WILLIAM TWISSE (1578–1646) — DIVINO DE WESTMINSTER

Uma breve exposição catequética dividida em quatro catecismos (https://quod.lib.umich.edu/e/eebo/A14092.0001.001/1:2?rgn=div1;view=fulltext):

P. O que é o sinal no batismo?

R. A lavagem da face ou do corpo da criança por água

P. Qual é a graça significada?

R. A lavagem da alma da criança do pecado por meio da lavagem com o sangue de Cristo

P. Somos feitos limpos pelo batismo, mas somos também feitos sem pecado?

R. Não

P. Por que, então, é dito que somos feitos limpos do pecado?

R. Por dois motivos

P. Qual é o primeiro?

R. Por que somos feitos livres da punição do pecado

P. Qual é a punição do pecado?

R. A morte

P. Como somos feitos livres disso?

R. Cristo morreu por nós

P. E qual é a outra razão?

R. Por que somos feitos livres do poder do pecado

P. O que significa ser feito livre do poder do pecado?

R. Que o pecado não reine mais sobre nós através de sua habitação

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Derek Kempa

Não sou nada mais que um pecador, buscando ter comunhão com o Deus vivo. Oh! Quanta misericórdia e graça de Deus!